Lição Progress:

Capítulo 5 - Financiamento e investimento

3. Crowdfunding

O crowdfunding tornou-se popular entre as startups nos últimos dez anos como uma forma alternativa de angariar fundos. Existem dois tipos principais de crowdfunding: o baseado em recompensas e o baseado em ações/participações.

O crowdfunding baseado em recompensas oferece às pessoas (geralmente conhecidas como “promotores” ou “financiadores”) uma recompensa. Geralmente, uma versão do produto, ou serviço, para o qual a empresa está a tentar angariar dinheiro, em troca de dinheiro. Estes tipos de campanhas de crowdfunding tendem a ser para angariadores menores (o tamanho médio no Kickstarter é de 18 000 euros), embora algumas campanhas tenham angariado centenas de milhares ou até milhões de euros. Estas campanhas não são gratuitas. As plataformas de crowdfunding cobram entre 3–7% — a maioria cobrando mais por uma campanha flexível (aquela em que recebe o dinheiro, independentemente de atingir o seu objetivo) do que uma campanha fixa (aquela em que só recebe o dinheiro se atingir o objetivo). O crowdfunding baseado em recompensas é uma ótima maneira de angariar fundos iniciais para a sua startup e também possui outros benefícios. Permite testar o interesse pela sua ideia, criar uma comunidade de patrocinadores leais que provavelmente o seguirão ao longo do seu caminho de startup e criar um burburinho em torno da sua marca e produto/serviço.

O crowdfunding de ações/participações é semelhante a um aumento de capital pelos investidores (consulte a secção abaixo sobre investimento em ações/participações), só que é feito através de uma plataforma de crowdfunding, como Crowdcube, WiSeed e FundedByMe. As pessoas investem variadas quantias para uma parte da empresa, com a maioria das plataformas oferecendo quantias de investimento tão baixas como 10 €. Os investidores fazem isto na expectativa de obter um retorno dentro de 5 a 10 anos, seja por meio de uma venda comercial (a empresa é vendida a outra empresa), por meio de um esquema de recompra (a empresa decide recomprar ações/participações de investidores) ou por meio de uma OPI (uma “oferta pública inicial” pela qual a empresa é listada na bolsa de valores mobiliários). Estas campanhas exigem um trabalho mais completo do que as baseadas em recompensas pois exigem planos de negócios, previsões financeiras e avaliações, enquanto que as campanhas baseadas em recompensas não o exigem. O crowdfunding de ações/participações enquadra-se na regulação financeira do país, com plataformas que precisam de ser aprovadas pelos órgãos financeiros competentes.

Como tornar o crowdfunding um sucesso:

  • A preparação é fundamental: Antes de a sua campanha de crowdfunding começar, planeie aquilo que precisa de fazer, planeie todos os passos a seguir enquanto estiver “live” e planeie já como vai gerir as coisas após terminar o crowdfunding. O seu plano deve incluir o valor que está a angariar, a sua estratégia de marketing, a sua estratégia de relações públicas e a sua lista de contactos. Faça um pré-rascunho de e-mails e comunicações para enviar em momentos importantes. É crucial estar preparado para o lançamento da campanha de crowdfunding mas também é importante estar preparado para quando a campanha terminar. Os financiadores estão a apostar dinheiro, e a depositar esperança, em si, para garantir que cumpre aquilo que prometeu. 
  • Seja criativo e genuíno: Torne a sua campanha original e interessante para as pessoas que está a tentar que embarquem consigo. Isto parece óbvio, mas muitas campanhas de crowdfunding falham porque os fundadores acreditam que as pessoas vão querer apoiar os seus negócios apenas porque é “fixe”. Conte uma história e apele às emoções das pessoas. Mova a imaginação deles e faça com que sintam que, ao apoiar a sua campanha, fazem parte de algo maior.
  • Avalie quanto trabalho realmente requer: O crowdfunding não é apenas colocar a sua campanha online e ver o dinheiro a entrar. Precisa de estar preparado para dar sempre no duro. Depois de a sua campanha ser lançada, torna-se um trabalho a tempo inteiro na gestão das campanhas de redes sociais e no contacto direto com as pessoas. Vai precisar de entrar em contacto com todos aqueles que já conheceu, quer seja pessoal ou profissionalmente.
  • Descubra como começar em grande: A maioria das campanhas de crowdfunding que não angariam 30% nos primeiros dois dias fracassam. Portanto, verifique se tem um plano para isto. Deve ter financiadores/investidores alinhados para contribuir assim que estiver disponível. Crie um sentido de urgência, talvez um incentivo para que as pessoas contribuam desde o início (como uma quantidade limitada de recompensas, um sorteio no qual participarão, a possibilidade de ganhar algo especial…). Vale a pena fazer alguns cálculos básicos sobre quantas pessoas precisará de abordar para atingir o seu objetivo.
  • Crie relacionamentos: tente promover um relacionamento pessoal com o maior número possível de financiadores. Os financiadores acreditam tanto em si que investiram em algo que ainda não existe. Mostre-lhes o apreço que eles merecem. Se esses relacionamentos forem bem geridos, é provável que essas pessoas gastem mais dinheiro consigo no futuro.
  • Aprenda com os outros: Veja campanhas bem-sucedidas e inspire-se. Escolhemos alguns para que possa começar.

Testemunhos de empresários sobre crowdfunding

“Fizemos isto porque vimos o crowdfunding como uma oportunidade de partilhar a nossa missão e o nosso sucesso com os nossos clientes. Por não muito mais do que o preço do nosso produto, as pessoas poderiam investir na visão de levar as coisas para a próxima etapa. As pessoas estavam entusiasmadas com isto e foi, realmente, um sucesso. Agora temos um exército de pessoas que não só acreditam no que estamos a fazer mas também estão emocionalmente investidas naquilo que estamos a fazer. E esta é uma ligação incrível que também é muito exclusiva para o crowdfunding. No entanto, também é uma pedra no sapato. Envolve muita coisa. Especialmente no crowdfunding de ações — do ponto de vista jurídico das coisas…. é caro de montar.”

– Dan Kurzrock, Chief Grain Officer da Regrained.

“Eu recomendo vivamente o crowdfunding. Não como uma maneira de angariar fundos, mas de construir uma comunidade. É uma ótima maneira de divulgar, alcançar os media e ligar as pessoas à sua marca. Mas é preciso muito tempo e esforço. Faça isto apenas se tiver poder de marketing na sua equipa.”

– Chantal Engelen, cofundadora da Kromkommer

Case study de crowdfunding baseado em recompensas: Toast Ale

  • Plataforma: Crowdfunder (https://www.crowdfunder.co.uk/raiseatoast#start) Objetivo: 20 000 £
  • Resultado: 29 452 £ com 449 financiadores em 28 dias
  • Porque é que funcionou? A Toast Ale pegou num problema sério (desperdício de alimentos) e transformou-o em algo agradável e popular (cerveja).
  • Transmitiu uma mensagem séria com sentido de humor e deu aos financiadores uma sensação de que estava a dar um valor real (combater o desperdício de alimentos), explicando o impacto tangível (quantas fatias de pão economizadas com cada promessa).
  • Explicação clara de que forma o dinheiro seria usado.
  • Recompensas inteligentes e criativas para atender a diversos orçamentos.

Case study de crowdfunding de ações: Gelado Oppo

  • Platforma: Seedrs (https://www.seedrs.com/oppo-ice-cream)
  • Objetivo: 100 000 £
  • Resultado: 353 811 £
  • Em 2015, a Oppo tornou-se a oferta “mais financiada” de sempre pela sua iniciativa no Seedrs. Decidiram angariar 100 000 £ mas conseguiram mais de 300 000 £. Quando voltaram ao Seedrs para a seguinte ronda de investimento , em 2016, a Oppo atingiu o seu objetivo de 150 000 £ em, aproximadamente, 6 horas.
  • Porque é que funcionou? Não venderam apenas um produto mas contaram a história de como a Oppo surgiu. Nós, como humanos, tendemos a sentir primeiro e a pensar depois. Assim sendo, vale a pena capturar a imaginação das pessoas e brincar com as suas emoções.

“O crowdfunding é a MELHOR ferramenta de marketing! Onde mais se pode promover, divulgar a sua história, colocar o seu produto nas mãos das pessoas, obter feedback sobre o produto, criar embaixadores da marca e angariar dinheiro ao mesmo tempo”?

– Cheryl Clements, fundadora e CEO do site de crowdfunding de alimentos e bebidas PieShell

Dívida

Pedir dinheiro em diferentes fases da sua startup pode ser uma forma eficaz de angariar capital e manter, dentro do possível, o máximo controlo do seu negócio. A dívida pode ser aumentada junto dos bancos, embora isso seja raro na fase inicial, os credores de dívida especializados em startups são muito mais prováveis. Existem esquemas governamentais que também fornecem facilidades de crédito. A desvantagem de aumentar a dívida é a de que você tem de a pagar com juros (ao contrário do crowdfunding, do seu património ou de subsídios). Alguns empréstimos para startups podem até exigir uma garantia pessoal, o que significa que você será pessoalmente responsável pelo pagamento do dinheiro no case de a sua empresa falhar.

Cada vez mais popular entre as startups são os valores mobiliários convertíveis. Estes também são empréstimos, embora, em vez de serem pagos em dinheiro, sejam pagos em capital próprio. Estes valores mobiliários permitem adiar a avaliação do seu negócio (uma operação frequentemente complicada para startups) e não exigem que pague o dinheiro de volta. Através deste mecanismo, os investidores não recebem o capital imediatamente, mas recebem uma parte do seu negócio na próxima ronda de investimentos em capital (veja abaixo). Parece-lhe um bom negócio? Certamente é, embora não se deva esquecer do trabalho árduo que é avaliar o seu negócio e estabelecer todas as estruturas jurídicas apropriadas para investimentos que ainda sejam precisos ocorrer mais para a frente. Veja este curso intensivo em valores mobiliários convertíveis para obter mais detalhes sobre como as fazer funcionar para si.

Capital Próprio

É a prática de obter capital dos investidores por uma parte* do seu negócio. O investimento em ações assume várias formas — pode angariar dinheiro com pessoas físicas (geralmente conhecidas como “investidores anjos”), grupos de investidores, capitais de risco, fundos… Existem categorias de investidores, como investidores específicos do setor (neste caso, procure aqueles focados em comida e agro-tecnologia!), investidores de impacto (que se concentram tanto no impacto ambiental e social como no retorno financeiro). O investimento em ações é uma ótima maneira de aumentar grandes quantidades de capital e encontrar pessoas que possam ser fundamentais para o crescimento do seu negócio. Decida se deseja investidores que invistam mas não se envolvem demais (investidores generalistas) ou se deseja aqueles que assumem um papel maior no seu negócio, atuando como consultores e ajudando a abrir portas (investidores estratégicos). É fundamental angariar o capital dos investidores certos. Encontrar pessoas alinhadas com o que quer fazer, e como quer fazer, significa que terá um relacionamento mais colaborativo. Pessoas com experiência relevante ajudá-lo-ão a acelerar o seu crescimento, fornecendo introduções importantes e ajudando a evitar erros que já foram cometidos por eles.

Ao criar e ao gerir um negócio sustentável, há vantagens em trabalhar com investidores de impacto. Se encontrar pessoas que acreditam na sua missão, elas irão valorizar o impacto mais amplo que está a criar, se não mais, do que os ganhos financeiros. Isto significa que eles terão menos probabilidade de retirar retorno e extrair valor do negócio desde o início.

*Existem diferentes tipos de ações/participações que pode emitir. A Investopedia fornece uma boa visão geral destas informações, mas é altamente recomendável obter um aconselhamento jurídico e financeiro para decidir qual é que se adequa melhor à sua empresa.

Passos para angariar investimento em ações

  • Identifique as suas necessidades de financiamento: deve ter uma ideia de quanto dinheiro precisará de angariar agora e no futuro (os investidores perguntarão quanto é que planeia angariar posteriormente).
  • Descubra quanto vale o seu negócio: Refere-se a quanto vale o seu negócio e determina a percentagem do seu negócio que precisará de abdicar em troca de investimento. Veja mais sobre isto no final do capítulo.
  • Melhore o seu discurso de elevador: deve explicar o seu negócio numa frase.
  • Crie um pitch deck e um teaser de investimento: veja abaixo mais detalhes sobre ambos.
  • Encontre oportunidades para apresentar a investidores: Encontre redes de investidores (talvez comece com a Comunidade de investidores em alimentação da EIT), noites de apresentação, desenvolva a sua rede pessoal de networking, pergunte a amigos e outras startups se têm dicas/podem recomendar pessoas.
  • Aprenda a abordar: a prática leva à perfeição. Se tiver a oportunidade de falar com investidores, leve isso a sério, garantindo que está sempre preparado. Deve praticar o seu discurso e conhecê-lo de trás para a frente. Também deve estar preparado para possíveis perguntas que eles possam fazer. Pode ser intimidante, mas lembre-se que conhece o seu negócio melhor do que qualquer outra pessoa, por isso tenha confiança para defender a sua proposta. Os investidores não estão lá para o tramar. Se eles estiverem interessados no seu negócio, eles vão querer garantir que fez o seu trabalho de casa e que tem uma ótima equipa e um plano para executar a sua ideia.